Muitas são as razões que levam indivíduos e famílias a abandonarem suas próprias comunidades. Segundo dados da ACNUR, em Setembro de 2023, 114 milhões de pessoas, em todo o mundo, foram forçadas a deixar suas casas. No Brasil, o maior contingente de refugiados é de origem venezuelana, com 67% das 50.355 solicitações de refúgio em 2022. Conheça um pouco mais sobre os desafios da imigração e possibilidades de superação por meio da história de Roxana Moreno:
A família ainda na Venezuela
As perspectivas de qualidade de vida não eram muito boas em Los Teques, capital do Estado de Miranda, na Venezuela. Pelas ruas da cidade, a jovem Roxana e seu companheiro vendiam itens usados e enxergavam que, diante das condições do país, precisariam sair dali para terem melhores oportunidades. Por isso, planejaram vir ao Brasil assim que fecharam uma boa venda.
Como a família era grande, já com 4 crianças, não seria possível viajarem todos de uma única vez, mas Roxana tinha convicção que seu companheiro conseguiria um trabalho rapidamente ao chegar em São Paulo. Afinal, sua ocupação era montador de palco e a cidade receberia o primeiro jogo da Copa América. Então ele viajou sozinho.
A chegada no Brasil
Após uma longa viagem de ônibus, ele chegou já exausto e não encontrou o emprego tão rápido quanto gostaria. Quando conseguiu um trabalho, seus chefes notavam que ele não andava muito bem de saúde e deduziram ser saudade da família. Assim, ofereceram pagar para que a família viesse ao Brasil, devendo descontar de seu salário este empréstimo.
Foi assim que Roxana chegou no Brasil aos 30 anos com seus 4 filhos: Emanuel, Samuel, Eliezer e Elói. Ao chegarem, passaram por diferentes equipamentos da Assistência Social até que conseguiram uma vaga em um lugar onde poderiam morar juntos como família: nosso CTA 18 Canindé.
Roxana faz decisões importantes em sua história
Apesar de estarem finalmente juntos, a dinâmica familiar ainda não estava organizada. Seu companheiro utilizava o salário para alimentar o vício que ele trazia lá da Venezuela: o álcool. A situação ocasionou uma série de eventos que destruíram a confiança que Roxana possuía nele, resultando no término do relacionamento.
“Eu falei: ‘não, não, não. Eu não posso continuar assim! Você tem que escolher!’. Ele escolheu a bebida e foi embora com o dinheiro todo. Ele escolheu e eu fico aqui com as crianças. Aqui eu tenho uma assistência social, minhas crianças têm comida, tem teto. Estou bem!”
Os planos que Roxana já havia traçado para sua família acabaram sendo cancelados. Ela até chegou a se relacionar com outro homem posteriormente, em quem renovou sua esperança de construir um lar para seus filhos. Porém, este segundo companheiro foi se tornando controlador e abusivo, diminuindo cada vez mais sua autoridade e personalidade. Após analisar a dinâmica da relação e o que desejava para seu futuro, Roxana optou por seguir a caminhada apenas com seus filhos.
“[Na Venezuela] era melhor aguentar os maus-tratos do que ir para a rua com as minhas crianças. Estar aqui me abre outra possibilidade de crescer livre,(…) de eu poder falar “não, eu não quero isso para a minha vida!” Aqui eu posso, porque eu tenho um apoio. Eu tenho uma ajuda, eu tenho um serviço que está me protegendo. Ter a liberdade exata de ser exatamente quem eu quero ser! ”
O apoio social como chave de mudança e propósito na história de Roxana Moreno
Diante do apoio social, psicológico e jurídico que recebia, agora no nosso CAEF Victory, ela passou a se dedicar para dar a estabilidade aos seus filhos. Nesse caminho de autonomia, Roxana soube da abertura de um processo seletivo na própria AEB para trabalhar como educadora social em um outro equipamento que seria inaugurado. Acreditando ser uma boa oportunidade trabalho e também de contribuição a outras famílias, ela concorreu à vaga e foi selecionada.
“Eu sofria muito e imaginava um serviço deste. Inclusive eu falava: ‘quando eu estudar, crescer, sair dessa situação… Quero auxiliar outras pessoas!’”
Hoje, Roxana sonha em dar uma boa educação a seus filhos, entendendo a responsabilidade que possui enquanto mulher em criar quatro homens. Enquanto trabalha na Vila Reencontro, se sente realizada em poder viver do serviço social e se organiza para, finalmente, conseguir um espaço só para ela e seus filhos. Muito em breve, Roxana continuará na AEB simplesmente como nossa colega de trabalho.
“Como eu fui tratada, eu também trato. Eu não julgo a pessoa, eu acolho a pessoa. Se posso orientar a pessoa e ensinar alguma coisa que eu aprendi, aproveito a oportunidade.”
Você pode contribuir com histórias assim
A história de Roxana Moreno representa o poder de transformação que um acolhimento e apoio social podem fazer na vida de alguém que beirou a situação de rua. Com investimento, a AEB pode lembrar a população mais vulnerável que ainda é tempo de reconstruir seus planos.