Um recente estudo conduzido pela Orientadora Socioeducativa Lúcia no CAEF DownTown mergulhou nas experiências de quatro mães estrangeiras que vivem no Brasil. O objetivo foi entender como essas mulheres enfrentam os desafios da maternidade em um país com cultura e educação diferentes das de seus países de origem. O estudo, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas, revelou um panorama cheio de complexidades, medos e sonhos.
Quais impressões das mães estrangeiras sobre o Brasil
Diante da pergunta “como é ser mãe no Brasil?”, as mães responderam suas impressões nestes 1 ano e 4 meses, em média, de moradia por aqui. Os comentários feitos ressaltaram os contrastes presentes na nossa realidade local. Por exemplo, elas demonstraram muita gratidão pelo acolhimento e atenção que receberam ao chegar, dando condições de se reorganizar; mas também comentam perceber que as oportunidades, do ponto de vista econômico, ainda são escassas.
“Gosto muito de morar no Brasil porque aqui estamos seguros. Há uma guerra no Afeganistão.”
(Razma Muradi, 29 anos, do Afeganistão. No Brasil com seu filho Mustafa, de 1 ano e meio)
Outro ponto abordado, é a situação de segurança pública do país. Enquanto alguns de seus países enfrentam guerras, no Brasil elas se vêem fora de conflitos armados, trazendo mais segurança. Apesar disso, a sensação de insegurança ainda sonda suas vidas ao presenciarem tanto consumo (de drogas) nas ruas.
“O Brasil é um país muito bonito, mas ainda não me acostumei a ver tanto consumo nas ruas.”
(Angie Milena Rivas González, 27 anos, da Colômbia. No Brasil com seu filho Eithan, de 3 meses)
As diferenças na maternidade enquanto estrangeiras
Ao perguntar a diferença da educação no Brasil e seus países de origem, a maioria afirma que a cultura brasileira afeta diretamente a criação dos filhos. Ao mesmo tempo em que valorizam o fato das crianças receberem mais amor e respeito, elas também relatam a dificuldade por não poderem corrigir seus filhos conforme seus costumes.
“Adaptar-se ao clima, natureza, cultura, costumes e tradições é desafiador, até mesmo na própria educação, porque há uma diferença em tudo, o que me causa algumas preocupações.”
(Souhalia Ben Árbitro, 23 anos, da Tunísia. No Brasil com seu marido e sua filha Claudia, de 4 meses)
O Impacto da falta de rede de apoio no Brasil
Outro assunto que surgiu na entrevista foi a falta de apoio, uma vez que estão distantes de seus familiares. Esta ausência se torna ainda mais significativa por serem mulheres jovens com filhos ainda pequenos. Angie, da Colômbia, ressaltou que sentiu muita falta de sua mãe
“A diferença é que na Colômbia tenho o apoio da minha família e aqui estive sozinha, mas enfatizo que no meu país não ajudam tanto quanto aqui.”
(Angie Milena Rivas González)
Resiliência e sonhos para o futuro como mães estrangeiras
Apesar dos desafios, essas mães estrangeiras não deixam de sonhar com um futuro melhor para suas famílias. O sonho de ter uma casa própria foi citado por várias participantes, como Bobeta, que está economizando e planejando uma vida mais estável no Brasil.
“Meu sonho é conseguir minha casa. Estamos economizando para isso e para dar condições de vida melhores para os meus filhos.”
(Bobeta Simão Bem, 29 anos, da Angola. No Brasil com seu marido e seus três filhos: José de 4 anos, Ebenexer de 1 ano e Ofranel e 1 mês)
Ainda sobre o futuro, Sohalia vai além, desejando construindo boas relações com nós, brasileiros:
“Quero ficar no Brasil e trabalhar para viver dignamente, ter boas relações com os brasileiros e ser amada por eles, porque o povo brasileiro é bom e compreensivo.”
(Souhalia Ben Árbitro)
Conclusão
O estudo evidenciou que, apesar das barreiras culturais e dos desafios financeiros, as mães estrangeiras que vivem no Brasil demonstram uma resiliência notável. Elas lutam não apenas para garantir uma vida digna para seus filhos, mas também para se adaptar e prosperar em um novo país. Suas histórias são exemplos de coragem e determinação, e nos fazem refletir sobre a importância de uma rede de apoio para que essas famílias possam alcançar seus sonhos.
Este estudo sobre maternidade em território estrangeiro não apenas ilumina as dificuldades enfrentadas por essas mulheres, mas também destaca a força e a esperança que elas carregam em suas jornadas no Brasil.
Você tem curiosidade sobre o tema? Confira esta matéria especial do Jornal da USP que também fez pesquisas com mães estrangeiras.