Somos todos corruptos

Somos todos corruptos
27/04/2016 zweiarts
 Por Luiz Fernando dos Santos

“O juízo deve começar pela Casa de Deus…” (1Pe 4.17 ss).

Devo imaginar que muitos dos meus leitores ficaram indignados com o título deste artigo: os que têm um nome, uma reputação a zelar ou os que se veem como justos e mui corretos. Também os que possuem alguma culpa no cartório podem incomodar-se com a minha afirmação. Mas é fato que somos todos corrompidos, somos todos corruptos e corruptores. Nascemos assim, faz parte de nossa natureza decaída.

Chegamos ao mundo programados para corromper tudo o que está a nossa volta. Por mais condescendente que sejam as teorias que ensinam que “o homem nasce bom e o meio é quem o corrompe”, elas não podem sustentar-se como verdadeiras. Pois, restará sempre a pergunta: quem corrompeu o meio? Ora, o homem com o seu coração depravado desde o seu nascimento é o que projeta a sua própria corrupção no mundo:

“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12)

“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5)

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).

Tenho que mencionar ainda a experiência retratada por Paulo que é também uma experiência universal:

“Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.15-20).

Portanto, embora a indignação contra os desmandos e a endêmica corrupção geral na política brasileira seja legítima e necessária até, ficarmos escandalizados, perplexos e imobilizados não contribui em nada e nem faz justiça à verdade. Não temos uma reputação a zelar, mas uma reputação a zerar! E não podemos evitar que o nosso coração continue a jorrar corrupção até que Cristo entre nele para transformá-lo.

Precisamos não só de uma nova postura ética, mas sobretudo de uma nova natureza e um novo coração (Ex 36.26). Um milagre que só o Evangelho da graça pode operar por meio do Espírito Santo. Aos nascidos de novo, que já estão em Cristo e são a Igreja d’Ele em missão no mundo, também precisamos contribuir para que uma solução possa ser encaminhada para o refreamento da corrupção em nosso país.

A primeira e mais urgente coisa que devemos fazer é nos arrependermos e confessarmos as nossas corrupções diárias a Deus e abandoná-las, mesmo aquelas ínfimas, quase despercebidas. Existe muita corrupção em nosso casamento, chantagens e ameaças emocionais trocadas entre os cônjuges. Barganhas psicológicas e afetivas que fazemos para “comprar” a obediência e o afeto de nossos filhos. Nossos filhos apresentam traços dessa corrupção quando “colam” na escola, quando fazem plágio copiando trabalhos da internet. Muitos pais aprovam esse caráter corrompido dos filhos quando desautorizam ou difamam os professores, que desejando a construção de um caráter mais cidadão e ético, chamam a atenção desses quando estão errados.

Precisamos confessar a corrupção que existe em todas as áreas de nossa vida, inclusive e necessariamente na Igreja. Depois de confessar arrependidos e sinceramente nossa corrupção pecaminosa, precisamos orar e jejuar para buscar o favor, a graça e a intervenção divina para o país. É nosso dever orar pelas autoridades (1 Tm 2.2) para que tenhamos tempos de paz e prosperidade. Depois de orar, o outro passo inadiável é comprometer-nos a partir para uma ação concreta. A política não é uma questão de vocação; é uma questão de natureza. Somos todos seres políticos. A política partidária que envolve eleições e mandatos talvez exija não só vocação, como também estômago. Todavia, existem muitas outras maneiras de se influenciar politicamente uma sociedade. Desde as associações de amigos de bairro, os conselhos municipais, clubes de serviço, o voluntariado, bem como o senso aguçado de corresponsabilidade e interdependência de vizinhos de rua etc para a promoção da qualidade de vida para todos.

Como discípulos do Reino não temos o direito de assistir ao que acontece em nosso redor com santa ira e indignação como se nós mesmos, em alguma medida, não somos todos responsáveis pelo mal que há no mundo. Lutemos contra o mal em nós e juntos, lutemos contra ele no mundo.

Luiz Fernando dos Santos é ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira (SP) e professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITREF)

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